segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Meatless Monday

            Designar um dia da semana no qual se deixa de consumir carne é uma mudança significativa que pode ser adotada por qualquer um e que vai ao cerne de várias questões importantes, desde políticas, éticas a ambientais [o transporte da carne é um dos principais emissores de dióxido de carbono, gás que intensifica o efeito estufa]. "Descubra novos sabores" é o apelo da campanha lançada em Londres por Paul McCartney e no Brasil pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), junto à prefeitura paulistana. 
            A era tecnológica junto ao capitalismo financeiro monopolista faz com que se queira todas as soluções imediatamente e, dessa forma, os problemas a longo prazo são ignorados; a falta de visão não comprova a inexistência dos problemas ambientais e poucas são as pessoas que se conscientizam de detalhes que serão grandiosos no futuro, como reduzir o tempo do banho para a economia de água e energia elétrica, separar o lixo orgânico do reciclável, trocar o carro por caminhadas ou pela bicicleta (...) mas a desculpa de que essas atitudes são irrelevantes é clássica. 
            A natureza é composta por ciclos: os seres vivos nascem, crescem, reproduzem-se e morrem - uma menina de 12 anos pode reproduzir da mesma forma como uma mulher de 40; a natureza pode sucumbir amanhã ou em um tempo inestimável: os ciclos terminam e recomeçam, podendo ser longos ou curtos, dependendo das condições em que se encontrarem. 
           Outra preocupação trazida pela modernidade é a da aparência externa e as mulheres, principalmente, são escravas da ditadura da beleza, mas qualquer um que já ousou uma dieta pôde perceber que 100 calorias diárias além da cota já fazem diferença na balança. Então, por que motivo um dia da semana sem carne não poderia ajudar a retardar problemas maiores para o planeta? E cada vez que pensar que a sua atitude não é relevante, lembre: já somos 7 bilhões. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pra frente, Brasil!

            A Disney revolucionou os filmes de animação ao lançar, em 1998, a história da sua primeira "princesa" asiática: Mulan veste-se como um homem e luta no Exército Imperial, no lugar de seu pai, que estava velho e doente. A heroína vivia em uma sociedade muito tradicional para ser aceita como uma mulher que ajudaria a combater o avanço uno na China.
            Ainda que haja resistência dos mais clássicos, não há como evitar o progressivo desenvolvimento do Brasil [por mais que pudesse ser diferente], já que se vive na Era da Globalização em que já não existem mais fronteiras e os continentes voltaram a ser Pangeia - ao menos virtualmente - e, em um clique, o contato com o outro lado do mundo é feito, tanto para amizades quanto para relações comerciais. 
            Não há mais invasões bárbaras, mas o povo brasileiro age como soldados para combater os resquícios tradicionalistas de que somente a educação presencial é válida [o diferencial é o aluno], de que homem não pode ser "dono de casa" e de que o trabalho de um gari é menos importante que o de um médico. Cursos técnicos formam, em menor tempo e com qualidade, novos trabalhadores de todas as idades - nunca é tarde para começar uma formação. 
            O esforço dos soldados brasileiros resultou em um mercado trabalhista amplo, dinâmico e com uma qualificação que cresce. Se não fosse pelo desempenho populacional e governamental [embora tenha muito para desenvolver-se] o Brasil não receberia, nos próximos anos, acontecimentos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. - ambos trarão diversos empregos [e prejuízos...] e, para eles, o povo precisa preparar-se: o governo disponibilizará cursos para melhor preparo dos empregados - qualificação que permanecerá mesmo após o término dos eventos.
             A honra que Mulan levou para sua família é a mesma que nós, cidadãos, trazemos para o nosso país - seja criando o hábito da leitura ou com o trabalho diário e honesto. A diferença é que podemos triunfar com um sorriso no rosto e sem a necessidade de um disfarce.

Indiferença Superficial

             O bar não mudou de lugar. A cachaça continua a mesma. A discussão foi. E eu sinto falta de discutir. Política. De discutir política, principalmente. Ah, o que sabes sobre política? Sabes ao menos o nome do vice-presidente? Claro que sabes. Mas não pela política. Pela moda. M-o-d-a. Porque comparam sua esposa à primeira dama da França. E a política? Esqueceste. Na verdade nunca te lembraste dela. Não é que eu negue a beleza, mas é que eu nego a ignorância... E a beleza do entendimento, perdeste por quê?
            A maquiagem tem te causado alergias, não é? Joga ela fora. Aceita o rosto que tens. Compra-te um livro... lembra-te daqueles que te recomendei. São tantos... lembras? O incrível é que o mais difícil tu já possuis: potencial. Potencial que não se conquista. Mas tu jogaste fora. Jogas fora.
            Eu desisto. Minha esperança degrada-se a cada dia.
            E desisti de buscar inteligência; busco entretenimento. 
            

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Da cama à caixa.

            Andava. Eu andava na rua como quem não tinha pressa, mas também como quem não tinha tempo a perder. Observava. Eu observava as vidas que iam e vinham com suas almas calejadas ou a calejar. Pensava. Eu pensava o tempo todo sobre todo o tempo. Até que meu andar foi interrompido.
           Sabe, eu nunca gostei das ciências humanas. Não tente me dizer que teus poemas falam mais do que meus cálculos. Já te disse diversas vezes que buscas na poesia respostas tão inexatas quanto as tuas perguntas. Mas não me interessa mais o que tu buscas ou deixa pra lá, já que tu não me buscas mais. Até que meu pensamento foi interrompido.
            Alguém puxou a minha mão e me disse que eu teria uma carreira profissional de extremo sucesso - recuei com um olhar de reprovação e ri, levemente - Segui. Parou-me mais uma vez. Meu olhar de reprovação passou para um olhar de irritação. - por mais que eu me irritasse, alguma coisa me fazia ficar. Não sei, não quero saber o quê. - e ele continuou falando do meu futuro sucesso, contudo, falou que não me amariam da mesma forma como eu não amaria mais. Que minha vida estava destinada a sair da cama, ir à maca e depois ao caixão. Sem sentido. Ele foi. Eu segui.
             Sabe, eu nunca gostei das ciências humanas, muito menos das humanas que nem são ciência. E menos ainda das estrelas. Olavo Bilac que me perdoe, mas nem quem ama tem ouvido capaz de entendê-las. O amor cega, ensurdece, mascara. Quem ama não quer ouvir, não quer entender, não quer.
            Passou. Passei. Segui passando.
            Lembro-me sempre da mão puxada e das palavras ditas. Comecei a achar que era bom. Sucesso sem amor. Não é dinheiro, mas reconhecimento, compreendes? Claro que não, já que não é poema o que te digo. Se bem que nem mais poemas tu consegues entender.
           O tempo passa e passou como eu passei. Os cálculos foram me deixando e a presbiopia foi me alcançando: dia após dia meus braços diminuem e ficam cada vez mais longes dos teus. Desisti da ideia de amar. Só te queria comigo. Queria que um poema me fosse lido. Pode ser Olavo Bilac. Só não me deixa olhando pro teto pra sempre. Pra sempre que duraria até a maca me deixar.
           Enlouqueci. Passou, mas passou menos do que deveria ter passado. O sucesso acabou sem sentido. A ideia de viver sem sentir só fazia com que eu sentisse mais. Me busca novamente e me traz a arte que eu não tenho e me faz ouvir estrelas mais uma vez.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Invenção Coletiva


               Portugal já estava naturalmente em vantagem nas navegações, devido à sua posição geográfica e da sua precoce formação do estado nacional do tipo moderno - poder absoluto governamental com economia mercantil. O pioneirismo português só não teve sucesso maior devido ao medo: fortes tempestades que ameaçariam o rumo das caravelas, monstros marinhos, como as sereias que, ao cantar, poderiam seduzir os tripulantes e o assustador horizonte que ameaçava o abismo - o desconhecido despertava a curiosidade assim como amedrontava.
              Durante os séculos XV e XVI, o pensador, nascido em Florença e funcionário da família Médici, teorizou como um governante deveria agir; Maquiavel, em sua obra "O Príncipe", diz que o rei deve tanto ser amado quanto temido, e, se não conseguisse ter ambos, que causasse temor - o medo serve de motivação para conduta da mesma forma como o erro serve de motivação para o acerto - entretanto, quem mais conseguiria cativar e amedrontar se não Deus? 
              São várias as divergências que surgem quando questionada a existência de um ser "todo poderoso"; contudo, a crença no improvável é o que une os que não se renderam à racionalidade. Tolstói, escritor russo e dono de uma técnica narrativa envolvente e cristalina, dizia que apenas a religião poderia unir e resolver os problemas sociais, porque, mesmo que diversas, o princípio de todas as fés é o amor. 
               Nas situações de risco, além da ativação imediata das glândulas suprarrenais, a apelação ao desconhecido torna-se necessária: o real já não pode mais ser recorrido e a fé acaba sendo a única saída - ponto comum nos seres humanos, assim como a liberação da adrenalina. - O desconhecido assusta, mas o amor pelo conhecimento cativa. - Talvez o Brasil tivesse sido colonizado antes se os portugueses tivessem tido mais curiosidade (e memória) e descoberto a forma geoide da Terra com Atlas, que a carregava nas costas, desde a Antiguidade Clássica. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Antropofagismo

            A evolução é clara: o que for perdendo sua utilidade passa a extinguir-se; ora por falta de necessidade, ora por falta de prioridade, o "excesso" é eliminado. O cérebro, por exemplo, se não usado, tende a atrofiar-se. [Não que eu defenda Lamarck]
           Século XVIII: os testes da máquina capaz de fixar uma superfície sensível, por meio da luz, a imagem dos objetos, começaram a ser feitos - não se tem certeza da autoria da invenção, mas a revolução que ela causou é certa: o mundo contemporâneo não viu mais necessidade de fazer uma descrição minuciosa dos acontecimentos (ou das pessoas) e criou movimentos como o Futurismo, o Cubismo, o Impressionismo (...) para retratar o mundo de forma sentimental, não mais racionalmente - um mundo representado como é sentido e visto, não como realmente é.
             A tecnologia da câmera fotográfica é inferior a dos computadores, e, com eles, o individualismo está sendo cultivado e crescendo exponencialmente - o contato físico diminuiu e o comodismo vence ao confrontar a insatisfação - a arte perdeu espaço, assim como o pensamento. O tamanho da complexidade digital é inversamente proporcional ao esforço necessário para usá-la. - A habilidade manual não é desenvolvida e até mesmo a fotografia mudou de conceito: não basta a retratação idêntica, também se busca o expressionismo nas imagens fotografadas.
              Trocar o lápis e o papel por teclas de computador é como substituir o trabalho humano por robôs e  trocar um piano de cauda a base de cordas por um teclado eletrônico; por mais que seja preciso pensar para criar arte digitalmente, o esforço é reduzido, não se pensa por completo e a criatividade perde espaço. A tecnologia pode servir como contribuição para os artistas e ampliar as possibilidades de arte - as novas formas de expressão não visam ao desaparecimento das anteriores - sem desmerecer o suor do trabalho manual e pensando - a arte grita, Munch que o diga.

sábado, 20 de agosto de 2011

O Triste Fim da Integridade

            História de azares de um nacionalista: quem examinasse a sua coleção de livros veria com clareza a preferência pela literatura brasileira - Bento Teixeira, Gregório de Matos, Santa Rita Durão e os mais românticos José de Alencar e Gonçalves Dias. Policarpo Quaresma, personagem do autor pré-modernista Lima Barreto, esforçou-se para manter seus ideais e questionou constantemente deputados e o presidente Marechal de Ferro - tanta insistência resultou na morte do simplório brasileiro.
            Não existe verdade, a partir do momento em que existem pontos de vista; e eles não são iguais: as divergências deveriam ser usadas para a obtenção de lucro intelectual - na presença de bom-senso, há a retirada das ideias alheias para o enriquecimento das próprias; na sua ausência, os argumentos utilizados atritam-se e geram conflito: as controvérsias vão prosseguir até que alguém silencie. Melhor do que o silêncio, é buscar pacificamente a exposição de cada pensamento, porque, da mesma forma como não se quer alterar a própria opinião, o outro não quer ter a sua mudada - pode-se concordar, mas concordância não significa compreensão.
            Mesmo com a oportunidade de negar suas crenças e evitar a morte, Sócrates preferiu beber cicuta e morrer envenenado do que corromper sua alma. Acreditava que a integridade deveria ser preservada em qualquer situação, mas seu triste fim não convenceu aos que não aderiam às suas verdades. Já a conclusão de Quaresma, quando estava próximo da morte, foi de que deveria ter mentido, matado, e roubado durante sua vida, em vez de buscar a aprovação de seus ideais - a integridade matou Sócrates e foi morta por Quaresma; agiram de formas opostas; nenhuma terminou em felicidade, porém. - Defender um ponto de vista não há de ser motivo para arrependimento, mas teimosia deve.
           Usa-se da autoridade na falta de argumentos [Quaresma e Sócrates sofreram ainda mais devido às suas posições sociais e à falta de poder] como fizeram os eminentíssimos-reverendíssimos-senhores-cardeais-inquisidores-gerais com inúmeros cientistas e filósofos: Galileu Galilei foi obrigado a abjurar, amaldiçoar e detestar seus supostos erros e heresias, mas nem pela teimosia clerical o Sol deixou de ser o centro do universo e a Terra parou de mover-se.

domingo, 7 de agosto de 2011

Tanto Tempo

O dia fechou.
Janela esquecida aberta.
O vento uivava, cortava a carne, tensionava o músculo, arrepiava o pêlo.
Ela era bonita, como todos diziam, jovem - como se a idade fosse sinônimo de beleza. Nova e bonita.
Precisava levantar, não conseguia.
Só sentia a pele cortada, o músculo tensionado, o pêlo arrepiado. E a lágrima que teimava em não cair.
O frio anunciava o crepúsculo - queria ver o sol no horizonte. Não via. Não levantava. Queria. Queria o horizonte além das lágrimas horizontais.
E Pingava. Ouvia que pingava. Não lágrimas. Não chuva. Mas a solução-isotônica-glicosada que adentrava a veia e cortava, tencionava, arrepiava.
Branco sem névoa, sem sol, sem dia, sem nada.
Com tudo.
Com dor, com lágrima, com sofrimento.
Tanto tempo.
Sem cartas, sem telefonemas, sem respostas.
Com nostalgia, com tristeza, com saudade.
O vento trazia a lembrança do que jamais iria voltar.
Tão bonita. Tão jovem. Tão frágil.
O sol abriu. Ela não.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tanto

São quantos
os prantos
aos cantos?

São tantos
os prantos
Sem santos.

E canto, 
recanto,
em canto.

São prantos
por tanto, 
levanto.

domingo, 17 de julho de 2011

Doce Calo

                 Estávamos ambos com a carne ainda fraca e a alma calejada, na esperança de encontrar uma carne forte com uma alma doce para preencher as lacunas recém desocupadas. Da mesma forma como o esquecimento foi forçado, a lembrança também está sendo. Não quis esperar por uma alma doce e deixei-me encantar pela tua tristeza: eu via nas tuas palavras cada amor desfeito e a eternidade desmentida. Um dia também jurei a eternidade - não jurei a niguém além de mim . O medo era grande. É grande. Nunca deixei a carne fortalecer, esperando por um resgate. Nunca quis superar a dor que todo-mundo-sente porque o sofrimento me reconfortava - na espera do reconforto das palavras dele pra me dizer que isso vai passar e pelas tuas pra dizer-me que já passou. E que podemos sorrir novamente.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

5,6,7,8

          Já não aguentava mais: a leveza para os olhos dos espectadores era dor para a artista. Todo o sofrimento tinha como objetivo a falsidade - demonstrar o movimento sem demonstrar a dor. - estica o joelho, fecha as costelas, encolhe a barriga, abre o en dehors, alonga os cotovelos -  não havia uma ponteira ou meia-calça que não estivesse marcada pelo sangue dos dedos machucados causados pelas constantes pressões da sapatilha.
          A competição era grande: não existe família na arte. Na arte dela não existia. Já não sabia mais se a cobrança interna era maior que a externa, só sabia que queria conseguir dançar - sem motivo, sem pra quem, sem.
          Os dias dos espetáculos aproximavam-se, os ensaios tornavam-se ainda mais intensos e a pressão aumentava - já não sentia mais os pés - e ia para a diagonal praticar a sequência de fouettés e, com raiva,  quebrava o breu pra evitar as quedas - por mais que quisesse cair, mas não queria ser culpada pela desistência - desistência soava, para ela, como covardia.
          5, 6, 7, 8: começava a barra. Primeira posição, plié, elevé, - por que ele não me ama? será que eu realmente o amo? - tandu, segunda posição, plié, elevé, vira a cabeça, port de bras - a professora corrige a postura, aperta o diafragma - os vômitos não têm sido eficientes? - elevé, pirouette, lado esquerdo. Fechava os olhos pra tentar não sentir, desequilibrava-se, mais uma correção era feita. - como alguém do tamanho dela consegue dançar na ponta dos pés? (risos) - ela ouvia, enquanto marcava a sequência de ronds de jambe. E também não sabia como conseguia dançar. Mentira, sabia sim. Simplesmente não dançava. Realmente os vômitos não estavam sendo eficientes. 
           Foundue, relevé, 120º, passé, a la second - eu tentei tanto, mas tanto, por que ela e não eu? - sous sous, outro lado - e, ao mesmo tempo do escorrer de uma lágrima, um fio de cabelo escorregou no seu rosto e o coque foi se desmanchando. Finalizava em uma quinta posição que mais parecia terceira. Mais correções. - É, não tinha como ser eu.
          Ela tentava. Ela queria a perfeição. Queria que não doesse mais, mas já não era possível, a espera já estava grande - tirou a sapatilha e já percebeu olhares de reprovação. Contou quinze. Quinze bolhas. A pele branca destacava os hematomas. A ponteira já não era mais eficiente. Gelol era nada. Xylocaina não ajudava mais. Nove. Nove compridos ela já havia tomado, mas não funcionavam. Sentia dor em músculos que ela nem sabia que possuía.
            Guardou a sapatilha. Engoliu as lágrimas. Não podia ser covarde. Foi preciso coragem pra desistir. Prendeu o fio do coque que havia caído.- se ele não me ama, eu que me ame. Chega disso.
           Nunca mais esqueceu os pliés, jetés, fondues, port de bras. - Um, dois. Cinco, seis. Três, quatro. Sete, oito. - Apenas desaprendeu a contar.
         
   

sábado, 9 de julho de 2011

A Doçura Pelotense

           A cidade Pelotas, localizada no sul Gaúcho, é famosa por ser a "Terra do Doce", devido à qualidade da cozinha doceira; assim como é conhecida por ser um local com muitos homossexuais - calúnia. A fama de carregar a bandeira do arco-íris só foi destinada a Pelotas porque, em meados do século XX, uma grande quantidade de homens foi enviada para França com o objetivo de estudar e, de lá, voltaram bem educados - a elegância não foi perdoada pelo gaúcho viril, virando motivo para deboche. 
          Simpatia não é falsidade, da mesma forma como educação e elegância não são frescura: os bons modos fazem falta na sociedade atual tão preocupada com o desenvolvimento - especialmente egoísta - e com o acúmulo de capital. Embora nem todos sejam de nosso agrado, a convivência, muitas vezes, é obrigatória e o cultivo de valores como a simpatia pode tornar o desgosto menos incômodo. Bons modos não deveriam surpreender: um cidadão pobre de São Paulo foi aplaudido ao devolver ao dono uma carteira com o dinheiro e os documentos intactos; mais do que um ato de cidadania, uma obrigação.
        Ser elegante é, também, passar despercebido: roupas adequadas às ocasiões, tom de voz agradável sem demasiadas alterações, até mesmo espirrar ou tossir sem chamar atenção; gestos que visam não incomodar o outro e acabam sendo notados devido à escassez de valores na sociedade contemporânea - a maioria da brigas poderia ser evitada se o tom de voz do argumento utilizado não soasse como uma agressão.
          Quando os rapazes pelotenses voltaram da França, além dos bons modos, desenvolveram ainda mais a linguagem falada, inclusive da Língua Portuguesa, que até hoje pode ser ouvida na sua cidade natal, com poucas falhas. Cada gesto de boa educação deve servir de exemplo e deve ser valorizado, até mesmo com a elegância ferida quando uma mulher fala um "obrigado" ou a atendente da padaria responde com um "obrigada você".

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Calcanhar de Aquiles

           Na mitologia grega, Aquiles foi um dos maiores heróis da Grécia, participante da Guerra de Troia e, consequentemente, personagem principal da Ilíada, do poeta Homero. Lendas afirmam que Aquiles era invulnerável, praticamente imortal, porém tinha uma fraqueza: seu calcanhar; e, dessa falha, sua morte foi resultante. 
             Era da globalização: já não existem mais fronteiras, os continentes voltaram a ser Pangeia - ao menos virtualmente - e abrigam a geração conforto, a qual está acostumada com a rapidez da transmissão de informações e na instantaneidade da resolução de problemas. Não há o desejo de aprender e o interesse pelo conhecimento está diminuindo gradativamente. 
           O Brasil - um país com sua história baseada na submissão e que até mesmo depois de sua independência manteve no governo um imperador português - não desenvolveu o suficiente as áreas relacionadas à educação (tanto é que, atualmente, o maior diferencial no brasileiro é saber corretamente a sua língua nativa e não mais um idioma estrangeiro), continuando seu desenvolvimento sem uma base estabelecida e, dessa forma, foi comprovando o chavão de que não se constrói uma casa pelo telhado; não é preciso ser um historiador para perceber que, certamente, a construção cairia. 
          A educação brasileira é o "calcanhar de Aquiles" do país, o ponto exatamente pelo qual pode desestruturar toda a Nação. A zona de conforto precisa ser quebrada e a base precisa ser urgentemente reconstruída; mesmo que, para isso, mais um movimento como a Inconfidência Mineira - a qual visava à criação de universidades e, principalmente, a independência - seja feito, com a grandiosidade de uma batalha da Antiguidade Clássica. 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Arcádia Urbana

          Em meados do século XVIII, na Inglaterra, descobriu-se o poder do vapor: não mais trabalhos manuais, mas a maquinofatura que invadia uma sociedade recém saída do campo. O bucolismo perdeu espaço e a Arcádia foi concretizando-se no plano das ideias.
            Com a máquina e com o Capitalismo industrial, o século das luzes trouxe filósofos defensores da teoria de que os homens são iguais perante a natureza, sendo as desigualdades causadas pelo próprio ser humano - "foram aquinhoados pelo seu Criador com certos direitos inalienáveis e entre esses direitos se encontram o da vida, o da liberdade e o da busca da felicidade." Com o Capitalismo, a superioridade em relação aos outros é mais almejada, a competitividade é extrema e o pecado da ganância torna-se ainda mais invencível.
           É muito estresse para pouco dia: o trabalho parece interminável e as oito horas de sono diárias recomendadas não são cumpridas. Já não se está mais no século XVIII, entretanto o Capitalismo só evoluiu, juntamente à tecnologia. O dito dos poetas contemporâneos da Revolução Industrial de aproveitar o dia é esquecido e o refúgio de felicidade árcade passou a ser apenas nostalgia.
          A saúde não fica impune: produtividade tem limite. - diversos medicamentos são buscados para que o homem se tranquilize - A felicidade tornou-se mais um objeto de desejo, como o acumulo de capital, não mais um caminho para atingi-lo. - como se felicidade fosse obrigatória e a tristeza intolerante; que valor haveria em ser feliz caso o gosto da tristeza não fosse experimentado?
          O estresse não nasce das circunstâncias externas, mas da interpretação que é feita delas - que os fatores e estatísticas sejam menos motivo de preocupação e que a conciliação do lucro com o bem estar exista a partir de benefícios tirados do sofrimento anterior; que cada um reencontre a Árcadia por meio de um êxodo urbano, ao menos no mundo abstrato. Não mais remédios: a filosofia como terapeuta.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Cuida-te, mon chéri.

          Fazia frio. Frio demais pra uma segunda-feira de Março em que nem havia chegado o Outono. Não fez diferença, a saudade era grande. Era pra ti? 
Naquele momento parecia tão simples, poderia ter sido, não? Mas aquele medo de não-posso-me-apaixonar não nos deixou chegar ao final da estação. - lembro-me de, em meio a paranoias, citar, superficialmente, o receio de não te ter comigo e tu me dizeres que não era das outras que tu gostavas e que era por mim o teu afeto. Por um instante acreditei que a reciprocidade de sentimento não era utopia. Mas só por aquele instante. 
       O equinócio passou e o solstício se aproximava: a esperança foi se convertendo gradativamente em cansaço.
         Fazia mais frio. Frio demais pra uma quinta-feira de Junho em que nem havia chegado o Inverno. Não fez diferença, a saudade era maior ainda. Era pra ti?   
         Só não esqueças tu: encher deriva de cheio e escreve-se com "ch"; "mim" não conjuga verbo e depois dos verbos "ter" e "haver" usa-se particípio longo. E que eu continuo apaixonada por quem eu gostaria que tu fosses.
           É, foi só um amor de outono.
           O mais importante: cuida-te.
           

sábado, 11 de junho de 2011

Contemporização Primitiva

                   Em Atenas, na Grécia Antiga, por volta do século V a.C., o filósofo e matemático Platão publicou seu sexto livro, intitulado "A República"; nesse livro, há a "Alegoria da Caverna", mito que conta a situação de vários homens presos numa caverna, onde eles têm nenhum conhecimento além do senso comum e das projeções da luz vinda de uma pequena abertura. Até que um dos homens se liberta das correntes e busca o mundo além da ignorância (caverna), mesmo que, nos primeiros momentos, isso o tenha causado dor - cegueira devido à luz (conhecimento).
                   Questionar os próprios princípios é perturbador -  alterar as ideias que já se está acostumado dá trabalho. O brasileiro (em geral) tem grande dificuldade de sair da zona de conforto para buscar atualização e um campo fora do senso comum - prefere estar preso à ignorância a receber o impacto do saber. Novas ideias são conhecimento - a realidade está no mundo delas, conforme Platão. 
                  A reforma ortográfica da Língua Portuguesa mexeu com a zona de conforto dos brasileiros e, devido à dificuldade de mobilidade ideológica, acarretou uma resistência. O brasileiro resiste às modificações da sua língua-mãe sem compreender qualquer motivo da mudança, sendo o principal deles a unificação da língua nos países lusófonos, para torná-la menos difusa e, assim, mais fortalecida. 
                   A interferência na ortografia portuguesa veio para o bem; adaptações são necessárias para a evolução do conhecimento. O brasileiro deve buscar as novas regras e, gradativamente, quebrar as correntes que o prendem às antigas convenções. Não é obrigatória a concordância com a novidade, mas que cada um chegue à sua conclusão, partindo de ideias reais - pode haver cegueira no início, mas ela passará e, logo, a realidade que será vista recompensará. 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Gosto de ser e estar.

Baseado no trecho:

 "[...] tento, com a maior insistência, embora com tão
precário resultado (como se tornou evidente), incorporar
a linguagem que falo e escuto no meu ambiente nativo à
língua com que ganho a vida nas folhas impressas.  Não
que o faça por novidade, apenas por necessidade. 
Meu parente José de Alencar quase um século atrás vivia
brigando por isso e fez escola."

Da Rachel de Queiroz

Gosto de ser e estar.

A ideia de escrever por obrigação soa de certa forma, assustadora. Eu sempre quis escrever, sempre gostei de fazê-lo, ainda posso dizer que gosto, mas as borrachas gastas, a tecla “backspace” marcada, são inversamente proporcionais à quantidade de textos produzidos; ao menos à quantidade de textos produzidos que me agradam. Fico tão cansada às vezes, os textos, os enredos extremamente confusos parecem sem saída... e digo pra mim mesma: está errado, não é assim, não é este o tempo, não é este o lugar, não é esta a vida. - vivendo uma vida toda pra dentro, lendo, escrevendo, ouvindo música o tempo todo.
E escrevo, mas tudo continua errado, da mesma forma, mas com um certo alívio, uma certa liberdade - se bem que liberdade parece-me um tanto quanto exagerado. Mas o que fazem os escritores se não exagerar? Tal como nomes famosos da nossa literatura passaram, às vezes até por anos, procurando a palavra ideal para completar suas obras, visando à perfeição, à música, à sociedade, a si.
A crônica que falta na produção genial de Rachel de Queiroz, seria aquela em que ela explica como incorporar a bela língua portuguesa nossa Pátria, nossa língua, como valorizar o nosso ser e estar, como trabalhar com exageros, que mesmo sem o desejo e a novidade de escrever, como ela bem coloca, mas com a obrigação. Talvez seja este o segredo: ter a alma de escritor e escrever com a razão. 

domingo, 29 de maio de 2011

Eu vou, eu vou.

Talvez seja hora de ser um pouco mais cigarra:
dias de formiga estão cansativos demais.

Talvez seja hora de largar da ansiedade
Esperar, com tranquilidade, pelo inverno que logo vai chegar.

Melhor ainda seria optar pelos sete anões:
cantar ao trabalhar.

Vou viver cantando ao carregar minha folha,
para que eu acumule mais invernos completados.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Cavalo não tem chifre.

                     A Arte da Guerra é um tratado militar escrito durante o século IV a.C pelo estrategista conhecido como Sun Tzu. O tratado é composto por treze capítulos, nos quais, em cada um deles, é abordado um aspecto estrategista de guerra, de modo a compor um panorama de todos os eventos e estratégias que devem ser abordados em um combate racional. 
                      Quanto mais conhecimento se obtém, se não for organizado, mais distante o óbvio fica e menos simples de enxergá-lo se torna; quanto maior a gradação de livros lidos, notícias escutadas e informações absorvidas, mais os pensamentos ficam complexos; caso não houver estratégia para administrá-los, essa complexidade junta-se com os problemas e dificulta até a mais simples situação - clássico com vestibulandos: colocar chifre em cabeça de cavalo, ou seja, inventar complexidade onde não há.
                      O vestibulando precisa construir estratégias para saber o que fazer com as informações na hora de estudar, tomar atitudes como refletir mais e memorizar menos: o acúmulo de informações deve ser usado a seu favor com a reflexão e não com a memorização de fórmulas que podem facilmente serem esquecidas ou confundidas; organizar o pensamento e dar respostas simples e objetivas: as análises devem ter efeito peneira nos conhecimentos, buscar somente o necessário, para que, dessa forma, haja maior clareza do resultado. 
                     Não há como unificar as estratégias e formular um plano infalível para o sucesso nos estudos - "chegando a um impasse, muda; depois de mudar, podes prosseguir", citação do terceiro capítulo de "A Arte da Guerra". Caso impasses aconteçam ao longo das batalhas dos estudantes, deve-se desviá-los e buscar novos meios de absorver as informações, para que, no final de todas as batalhas - exclusivamente desenvolvidas com cavalos e não unicórnios - haja a vitória da guerra: a aprovação na universidade almejada.

domingo, 22 de maio de 2011

O Pulo do Gato

              Dos meus nove aos meus quinze anos, tive como animal de estimação uma gata não muito simpática e, como tantos outros felinos, dotada de uma curiosidade absurda - ela poderia ser como os outros, mas era especial por ser minha e por compartilharmos um amor que eu o sentia ser recíproco: isso a tornou única. 
                Mais de uma vez tive a oportunidade de ver a curiosidade felina sendo comprovada e a veracidade do clichê: "a curiosidade matou o gato". E, de fato, quase a matou: bocas do fogão acesas enquanto o almoço estava sendo preparado e a gata, com um ronronar interesseiro, estava nos arredores de minha mãe, aguardando tanto por atenção quanto por alimento. Em um pequeno salto, a gata subiu no fogão e queimou seus bigodes, rapidamente desceu, miando em um tom de reclamação. Depois dessa experiência, ela nunca mais ousou subir no fogão.
            Minha própria experiência é fruto de apenas dezesseis anos e reconheço que não é grande, entretanto não é preciso experimentar para distinguir o certo do errado. Discernimento exige reflexão e dá trabalho - nem sempre conseguimos analisar todos os detalhes para que a decisão certa seja tomada. O erro também é consequência da distração, a exemplo do caso ocorrido em dezembro de 2010, em que uma auxiliar de enfermagem engana-se e administra vasilina em vez de soro e acaba por matar a paciente; no mesmo ano, um piloto alinhou incorretamente o avião ao pousar, matando 95 pessoas. 
               Todo erro deve servir de motivação para o acerto e não deve servir como conforto. Valores os quais aprendo tanto com os erros que comento quanto com os erros que vejo sendo cometidos. Assim a sociedade também deve aprender - na hora de administrar o soro, os cuidados dos enfermeiros serão dobrados, como os pilotos ficarão mais atentos ao alinhar os aviões no momento do pouso. E eu aprendo a permanecer atenta, longe dos fogões e mantendo meus bigodes intactos. Talvez este o segredo: cultivar o valor da atenção. Ou seja, o pulo do gato. 

domingo, 15 de maio de 2011

Contra-capa

A dúvida alimenta enquanto a saudade mata.
Sentimento de perda não aceita: tantos textos perdidos, livros inacabados, diálogos sem conclusão - o fim chegou tão repentinamente que acabou esquecendo-se de colocar o ponto final.
Será choro de saudade ou de amor sucumbido? A dúvida cancerosa que alimenta a saudade que consome. 
Prefiro que o final seja marcado; que o livro deixe claro que nada mais resta além da contra-capa e da necessidade de recomeçar. 
Contudo, percebo que se as minhas dúvidas fossem concluídas morreria de saudade. 

domingo, 1 de maio de 2011

Sou música alta e silêncio.

Não encontrei minha harmonia. Já não sei mais a qual campo pertenço e quais escalas me compõem. 
Escolhi por sustenido quando deveria ter ido por bemol. Avancei justo no momento no qual precisava recuar. Faltou-me prestar atenção no compasso e quebrei a pouca consonância que restava... chego no final da partitura e só vejo barra dupla sem possibilidade de repetição.
Não sou fraca, minha força que é frágil. Não fui resistente o suficiente pra manter o mesmo tom do início ao fim. 
Agora, resolvo aumentar minhas pausas - afinal, o silêncio é parte integrante e fundamental da música. 
Sustenido ou bemol? Bequadro. 

domingo, 24 de abril de 2011

Só não venhas tu com definições de certo e errado. 
Não venhas com moralismo e discernimentos não pensados. 
Vida não é poupança que quanto mais se guarda mais se tem.
Já não basta o dinheiro, queres que eu economize vida? 

sábado, 9 de abril de 2011

Não conto.

Eu gosto,
logo desgosto,
a contragosto.
Sou do contra,
contrariada,
desencontrada.
Contada
no meu conto,
desconto e
ponto.