segunda-feira, 30 de maio de 2011

Gosto de ser e estar.

Baseado no trecho:

 "[...] tento, com a maior insistência, embora com tão
precário resultado (como se tornou evidente), incorporar
a linguagem que falo e escuto no meu ambiente nativo à
língua com que ganho a vida nas folhas impressas.  Não
que o faça por novidade, apenas por necessidade. 
Meu parente José de Alencar quase um século atrás vivia
brigando por isso e fez escola."

Da Rachel de Queiroz

Gosto de ser e estar.

A ideia de escrever por obrigação soa de certa forma, assustadora. Eu sempre quis escrever, sempre gostei de fazê-lo, ainda posso dizer que gosto, mas as borrachas gastas, a tecla “backspace” marcada, são inversamente proporcionais à quantidade de textos produzidos; ao menos à quantidade de textos produzidos que me agradam. Fico tão cansada às vezes, os textos, os enredos extremamente confusos parecem sem saída... e digo pra mim mesma: está errado, não é assim, não é este o tempo, não é este o lugar, não é esta a vida. - vivendo uma vida toda pra dentro, lendo, escrevendo, ouvindo música o tempo todo.
E escrevo, mas tudo continua errado, da mesma forma, mas com um certo alívio, uma certa liberdade - se bem que liberdade parece-me um tanto quanto exagerado. Mas o que fazem os escritores se não exagerar? Tal como nomes famosos da nossa literatura passaram, às vezes até por anos, procurando a palavra ideal para completar suas obras, visando à perfeição, à música, à sociedade, a si.
A crônica que falta na produção genial de Rachel de Queiroz, seria aquela em que ela explica como incorporar a bela língua portuguesa nossa Pátria, nossa língua, como valorizar o nosso ser e estar, como trabalhar com exageros, que mesmo sem o desejo e a novidade de escrever, como ela bem coloca, mas com a obrigação. Talvez seja este o segredo: ter a alma de escritor e escrever com a razão. 

domingo, 29 de maio de 2011

Eu vou, eu vou.

Talvez seja hora de ser um pouco mais cigarra:
dias de formiga estão cansativos demais.

Talvez seja hora de largar da ansiedade
Esperar, com tranquilidade, pelo inverno que logo vai chegar.

Melhor ainda seria optar pelos sete anões:
cantar ao trabalhar.

Vou viver cantando ao carregar minha folha,
para que eu acumule mais invernos completados.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Cavalo não tem chifre.

                     A Arte da Guerra é um tratado militar escrito durante o século IV a.C pelo estrategista conhecido como Sun Tzu. O tratado é composto por treze capítulos, nos quais, em cada um deles, é abordado um aspecto estrategista de guerra, de modo a compor um panorama de todos os eventos e estratégias que devem ser abordados em um combate racional. 
                      Quanto mais conhecimento se obtém, se não for organizado, mais distante o óbvio fica e menos simples de enxergá-lo se torna; quanto maior a gradação de livros lidos, notícias escutadas e informações absorvidas, mais os pensamentos ficam complexos; caso não houver estratégia para administrá-los, essa complexidade junta-se com os problemas e dificulta até a mais simples situação - clássico com vestibulandos: colocar chifre em cabeça de cavalo, ou seja, inventar complexidade onde não há.
                      O vestibulando precisa construir estratégias para saber o que fazer com as informações na hora de estudar, tomar atitudes como refletir mais e memorizar menos: o acúmulo de informações deve ser usado a seu favor com a reflexão e não com a memorização de fórmulas que podem facilmente serem esquecidas ou confundidas; organizar o pensamento e dar respostas simples e objetivas: as análises devem ter efeito peneira nos conhecimentos, buscar somente o necessário, para que, dessa forma, haja maior clareza do resultado. 
                     Não há como unificar as estratégias e formular um plano infalível para o sucesso nos estudos - "chegando a um impasse, muda; depois de mudar, podes prosseguir", citação do terceiro capítulo de "A Arte da Guerra". Caso impasses aconteçam ao longo das batalhas dos estudantes, deve-se desviá-los e buscar novos meios de absorver as informações, para que, no final de todas as batalhas - exclusivamente desenvolvidas com cavalos e não unicórnios - haja a vitória da guerra: a aprovação na universidade almejada.

domingo, 22 de maio de 2011

O Pulo do Gato

              Dos meus nove aos meus quinze anos, tive como animal de estimação uma gata não muito simpática e, como tantos outros felinos, dotada de uma curiosidade absurda - ela poderia ser como os outros, mas era especial por ser minha e por compartilharmos um amor que eu o sentia ser recíproco: isso a tornou única. 
                Mais de uma vez tive a oportunidade de ver a curiosidade felina sendo comprovada e a veracidade do clichê: "a curiosidade matou o gato". E, de fato, quase a matou: bocas do fogão acesas enquanto o almoço estava sendo preparado e a gata, com um ronronar interesseiro, estava nos arredores de minha mãe, aguardando tanto por atenção quanto por alimento. Em um pequeno salto, a gata subiu no fogão e queimou seus bigodes, rapidamente desceu, miando em um tom de reclamação. Depois dessa experiência, ela nunca mais ousou subir no fogão.
            Minha própria experiência é fruto de apenas dezesseis anos e reconheço que não é grande, entretanto não é preciso experimentar para distinguir o certo do errado. Discernimento exige reflexão e dá trabalho - nem sempre conseguimos analisar todos os detalhes para que a decisão certa seja tomada. O erro também é consequência da distração, a exemplo do caso ocorrido em dezembro de 2010, em que uma auxiliar de enfermagem engana-se e administra vasilina em vez de soro e acaba por matar a paciente; no mesmo ano, um piloto alinhou incorretamente o avião ao pousar, matando 95 pessoas. 
               Todo erro deve servir de motivação para o acerto e não deve servir como conforto. Valores os quais aprendo tanto com os erros que comento quanto com os erros que vejo sendo cometidos. Assim a sociedade também deve aprender - na hora de administrar o soro, os cuidados dos enfermeiros serão dobrados, como os pilotos ficarão mais atentos ao alinhar os aviões no momento do pouso. E eu aprendo a permanecer atenta, longe dos fogões e mantendo meus bigodes intactos. Talvez este o segredo: cultivar o valor da atenção. Ou seja, o pulo do gato. 

domingo, 15 de maio de 2011

Contra-capa

A dúvida alimenta enquanto a saudade mata.
Sentimento de perda não aceita: tantos textos perdidos, livros inacabados, diálogos sem conclusão - o fim chegou tão repentinamente que acabou esquecendo-se de colocar o ponto final.
Será choro de saudade ou de amor sucumbido? A dúvida cancerosa que alimenta a saudade que consome. 
Prefiro que o final seja marcado; que o livro deixe claro que nada mais resta além da contra-capa e da necessidade de recomeçar. 
Contudo, percebo que se as minhas dúvidas fossem concluídas morreria de saudade. 

domingo, 1 de maio de 2011

Sou música alta e silêncio.

Não encontrei minha harmonia. Já não sei mais a qual campo pertenço e quais escalas me compõem. 
Escolhi por sustenido quando deveria ter ido por bemol. Avancei justo no momento no qual precisava recuar. Faltou-me prestar atenção no compasso e quebrei a pouca consonância que restava... chego no final da partitura e só vejo barra dupla sem possibilidade de repetição.
Não sou fraca, minha força que é frágil. Não fui resistente o suficiente pra manter o mesmo tom do início ao fim. 
Agora, resolvo aumentar minhas pausas - afinal, o silêncio é parte integrante e fundamental da música. 
Sustenido ou bemol? Bequadro.