terça-feira, 28 de junho de 2011

Cuida-te, mon chéri.

          Fazia frio. Frio demais pra uma segunda-feira de Março em que nem havia chegado o Outono. Não fez diferença, a saudade era grande. Era pra ti? 
Naquele momento parecia tão simples, poderia ter sido, não? Mas aquele medo de não-posso-me-apaixonar não nos deixou chegar ao final da estação. - lembro-me de, em meio a paranoias, citar, superficialmente, o receio de não te ter comigo e tu me dizeres que não era das outras que tu gostavas e que era por mim o teu afeto. Por um instante acreditei que a reciprocidade de sentimento não era utopia. Mas só por aquele instante. 
       O equinócio passou e o solstício se aproximava: a esperança foi se convertendo gradativamente em cansaço.
         Fazia mais frio. Frio demais pra uma quinta-feira de Junho em que nem havia chegado o Inverno. Não fez diferença, a saudade era maior ainda. Era pra ti?   
         Só não esqueças tu: encher deriva de cheio e escreve-se com "ch"; "mim" não conjuga verbo e depois dos verbos "ter" e "haver" usa-se particípio longo. E que eu continuo apaixonada por quem eu gostaria que tu fosses.
           É, foi só um amor de outono.
           O mais importante: cuida-te.
           

sábado, 11 de junho de 2011

Contemporização Primitiva

                   Em Atenas, na Grécia Antiga, por volta do século V a.C., o filósofo e matemático Platão publicou seu sexto livro, intitulado "A República"; nesse livro, há a "Alegoria da Caverna", mito que conta a situação de vários homens presos numa caverna, onde eles têm nenhum conhecimento além do senso comum e das projeções da luz vinda de uma pequena abertura. Até que um dos homens se liberta das correntes e busca o mundo além da ignorância (caverna), mesmo que, nos primeiros momentos, isso o tenha causado dor - cegueira devido à luz (conhecimento).
                   Questionar os próprios princípios é perturbador -  alterar as ideias que já se está acostumado dá trabalho. O brasileiro (em geral) tem grande dificuldade de sair da zona de conforto para buscar atualização e um campo fora do senso comum - prefere estar preso à ignorância a receber o impacto do saber. Novas ideias são conhecimento - a realidade está no mundo delas, conforme Platão. 
                  A reforma ortográfica da Língua Portuguesa mexeu com a zona de conforto dos brasileiros e, devido à dificuldade de mobilidade ideológica, acarretou uma resistência. O brasileiro resiste às modificações da sua língua-mãe sem compreender qualquer motivo da mudança, sendo o principal deles a unificação da língua nos países lusófonos, para torná-la menos difusa e, assim, mais fortalecida. 
                   A interferência na ortografia portuguesa veio para o bem; adaptações são necessárias para a evolução do conhecimento. O brasileiro deve buscar as novas regras e, gradativamente, quebrar as correntes que o prendem às antigas convenções. Não é obrigatória a concordância com a novidade, mas que cada um chegue à sua conclusão, partindo de ideias reais - pode haver cegueira no início, mas ela passará e, logo, a realidade que será vista recompensará.