sábado, 20 de agosto de 2011

O Triste Fim da Integridade

            História de azares de um nacionalista: quem examinasse a sua coleção de livros veria com clareza a preferência pela literatura brasileira - Bento Teixeira, Gregório de Matos, Santa Rita Durão e os mais românticos José de Alencar e Gonçalves Dias. Policarpo Quaresma, personagem do autor pré-modernista Lima Barreto, esforçou-se para manter seus ideais e questionou constantemente deputados e o presidente Marechal de Ferro - tanta insistência resultou na morte do simplório brasileiro.
            Não existe verdade, a partir do momento em que existem pontos de vista; e eles não são iguais: as divergências deveriam ser usadas para a obtenção de lucro intelectual - na presença de bom-senso, há a retirada das ideias alheias para o enriquecimento das próprias; na sua ausência, os argumentos utilizados atritam-se e geram conflito: as controvérsias vão prosseguir até que alguém silencie. Melhor do que o silêncio, é buscar pacificamente a exposição de cada pensamento, porque, da mesma forma como não se quer alterar a própria opinião, o outro não quer ter a sua mudada - pode-se concordar, mas concordância não significa compreensão.
            Mesmo com a oportunidade de negar suas crenças e evitar a morte, Sócrates preferiu beber cicuta e morrer envenenado do que corromper sua alma. Acreditava que a integridade deveria ser preservada em qualquer situação, mas seu triste fim não convenceu aos que não aderiam às suas verdades. Já a conclusão de Quaresma, quando estava próximo da morte, foi de que deveria ter mentido, matado, e roubado durante sua vida, em vez de buscar a aprovação de seus ideais - a integridade matou Sócrates e foi morta por Quaresma; agiram de formas opostas; nenhuma terminou em felicidade, porém. - Defender um ponto de vista não há de ser motivo para arrependimento, mas teimosia deve.
           Usa-se da autoridade na falta de argumentos [Quaresma e Sócrates sofreram ainda mais devido às suas posições sociais e à falta de poder] como fizeram os eminentíssimos-reverendíssimos-senhores-cardeais-inquisidores-gerais com inúmeros cientistas e filósofos: Galileu Galilei foi obrigado a abjurar, amaldiçoar e detestar seus supostos erros e heresias, mas nem pela teimosia clerical o Sol deixou de ser o centro do universo e a Terra parou de mover-se.

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