segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Meatless Monday

            Designar um dia da semana no qual se deixa de consumir carne é uma mudança significativa que pode ser adotada por qualquer um e que vai ao cerne de várias questões importantes, desde políticas, éticas a ambientais [o transporte da carne é um dos principais emissores de dióxido de carbono, gás que intensifica o efeito estufa]. "Descubra novos sabores" é o apelo da campanha lançada em Londres por Paul McCartney e no Brasil pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), junto à prefeitura paulistana. 
            A era tecnológica junto ao capitalismo financeiro monopolista faz com que se queira todas as soluções imediatamente e, dessa forma, os problemas a longo prazo são ignorados; a falta de visão não comprova a inexistência dos problemas ambientais e poucas são as pessoas que se conscientizam de detalhes que serão grandiosos no futuro, como reduzir o tempo do banho para a economia de água e energia elétrica, separar o lixo orgânico do reciclável, trocar o carro por caminhadas ou pela bicicleta (...) mas a desculpa de que essas atitudes são irrelevantes é clássica. 
            A natureza é composta por ciclos: os seres vivos nascem, crescem, reproduzem-se e morrem - uma menina de 12 anos pode reproduzir da mesma forma como uma mulher de 40; a natureza pode sucumbir amanhã ou em um tempo inestimável: os ciclos terminam e recomeçam, podendo ser longos ou curtos, dependendo das condições em que se encontrarem. 
           Outra preocupação trazida pela modernidade é a da aparência externa e as mulheres, principalmente, são escravas da ditadura da beleza, mas qualquer um que já ousou uma dieta pôde perceber que 100 calorias diárias além da cota já fazem diferença na balança. Então, por que motivo um dia da semana sem carne não poderia ajudar a retardar problemas maiores para o planeta? E cada vez que pensar que a sua atitude não é relevante, lembre: já somos 7 bilhões. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pra frente, Brasil!

            A Disney revolucionou os filmes de animação ao lançar, em 1998, a história da sua primeira "princesa" asiática: Mulan veste-se como um homem e luta no Exército Imperial, no lugar de seu pai, que estava velho e doente. A heroína vivia em uma sociedade muito tradicional para ser aceita como uma mulher que ajudaria a combater o avanço uno na China.
            Ainda que haja resistência dos mais clássicos, não há como evitar o progressivo desenvolvimento do Brasil [por mais que pudesse ser diferente], já que se vive na Era da Globalização em que já não existem mais fronteiras e os continentes voltaram a ser Pangeia - ao menos virtualmente - e, em um clique, o contato com o outro lado do mundo é feito, tanto para amizades quanto para relações comerciais. 
            Não há mais invasões bárbaras, mas o povo brasileiro age como soldados para combater os resquícios tradicionalistas de que somente a educação presencial é válida [o diferencial é o aluno], de que homem não pode ser "dono de casa" e de que o trabalho de um gari é menos importante que o de um médico. Cursos técnicos formam, em menor tempo e com qualidade, novos trabalhadores de todas as idades - nunca é tarde para começar uma formação. 
            O esforço dos soldados brasileiros resultou em um mercado trabalhista amplo, dinâmico e com uma qualificação que cresce. Se não fosse pelo desempenho populacional e governamental [embora tenha muito para desenvolver-se] o Brasil não receberia, nos próximos anos, acontecimentos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. - ambos trarão diversos empregos [e prejuízos...] e, para eles, o povo precisa preparar-se: o governo disponibilizará cursos para melhor preparo dos empregados - qualificação que permanecerá mesmo após o término dos eventos.
             A honra que Mulan levou para sua família é a mesma que nós, cidadãos, trazemos para o nosso país - seja criando o hábito da leitura ou com o trabalho diário e honesto. A diferença é que podemos triunfar com um sorriso no rosto e sem a necessidade de um disfarce.

Indiferença Superficial

             O bar não mudou de lugar. A cachaça continua a mesma. A discussão foi. E eu sinto falta de discutir. Política. De discutir política, principalmente. Ah, o que sabes sobre política? Sabes ao menos o nome do vice-presidente? Claro que sabes. Mas não pela política. Pela moda. M-o-d-a. Porque comparam sua esposa à primeira dama da França. E a política? Esqueceste. Na verdade nunca te lembraste dela. Não é que eu negue a beleza, mas é que eu nego a ignorância... E a beleza do entendimento, perdeste por quê?
            A maquiagem tem te causado alergias, não é? Joga ela fora. Aceita o rosto que tens. Compra-te um livro... lembra-te daqueles que te recomendei. São tantos... lembras? O incrível é que o mais difícil tu já possuis: potencial. Potencial que não se conquista. Mas tu jogaste fora. Jogas fora.
            Eu desisto. Minha esperança degrada-se a cada dia.
            E desisti de buscar inteligência; busco entretenimento. 
            

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Da cama à caixa.

            Andava. Eu andava na rua como quem não tinha pressa, mas também como quem não tinha tempo a perder. Observava. Eu observava as vidas que iam e vinham com suas almas calejadas ou a calejar. Pensava. Eu pensava o tempo todo sobre todo o tempo. Até que meu andar foi interrompido.
           Sabe, eu nunca gostei das ciências humanas. Não tente me dizer que teus poemas falam mais do que meus cálculos. Já te disse diversas vezes que buscas na poesia respostas tão inexatas quanto as tuas perguntas. Mas não me interessa mais o que tu buscas ou deixa pra lá, já que tu não me buscas mais. Até que meu pensamento foi interrompido.
            Alguém puxou a minha mão e me disse que eu teria uma carreira profissional de extremo sucesso - recuei com um olhar de reprovação e ri, levemente - Segui. Parou-me mais uma vez. Meu olhar de reprovação passou para um olhar de irritação. - por mais que eu me irritasse, alguma coisa me fazia ficar. Não sei, não quero saber o quê. - e ele continuou falando do meu futuro sucesso, contudo, falou que não me amariam da mesma forma como eu não amaria mais. Que minha vida estava destinada a sair da cama, ir à maca e depois ao caixão. Sem sentido. Ele foi. Eu segui.
             Sabe, eu nunca gostei das ciências humanas, muito menos das humanas que nem são ciência. E menos ainda das estrelas. Olavo Bilac que me perdoe, mas nem quem ama tem ouvido capaz de entendê-las. O amor cega, ensurdece, mascara. Quem ama não quer ouvir, não quer entender, não quer.
            Passou. Passei. Segui passando.
            Lembro-me sempre da mão puxada e das palavras ditas. Comecei a achar que era bom. Sucesso sem amor. Não é dinheiro, mas reconhecimento, compreendes? Claro que não, já que não é poema o que te digo. Se bem que nem mais poemas tu consegues entender.
           O tempo passa e passou como eu passei. Os cálculos foram me deixando e a presbiopia foi me alcançando: dia após dia meus braços diminuem e ficam cada vez mais longes dos teus. Desisti da ideia de amar. Só te queria comigo. Queria que um poema me fosse lido. Pode ser Olavo Bilac. Só não me deixa olhando pro teto pra sempre. Pra sempre que duraria até a maca me deixar.
           Enlouqueci. Passou, mas passou menos do que deveria ter passado. O sucesso acabou sem sentido. A ideia de viver sem sentir só fazia com que eu sentisse mais. Me busca novamente e me traz a arte que eu não tenho e me faz ouvir estrelas mais uma vez.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Invenção Coletiva


               Portugal já estava naturalmente em vantagem nas navegações, devido à sua posição geográfica e da sua precoce formação do estado nacional do tipo moderno - poder absoluto governamental com economia mercantil. O pioneirismo português só não teve sucesso maior devido ao medo: fortes tempestades que ameaçariam o rumo das caravelas, monstros marinhos, como as sereias que, ao cantar, poderiam seduzir os tripulantes e o assustador horizonte que ameaçava o abismo - o desconhecido despertava a curiosidade assim como amedrontava.
              Durante os séculos XV e XVI, o pensador, nascido em Florença e funcionário da família Médici, teorizou como um governante deveria agir; Maquiavel, em sua obra "O Príncipe", diz que o rei deve tanto ser amado quanto temido, e, se não conseguisse ter ambos, que causasse temor - o medo serve de motivação para conduta da mesma forma como o erro serve de motivação para o acerto - entretanto, quem mais conseguiria cativar e amedrontar se não Deus? 
              São várias as divergências que surgem quando questionada a existência de um ser "todo poderoso"; contudo, a crença no improvável é o que une os que não se renderam à racionalidade. Tolstói, escritor russo e dono de uma técnica narrativa envolvente e cristalina, dizia que apenas a religião poderia unir e resolver os problemas sociais, porque, mesmo que diversas, o princípio de todas as fés é o amor. 
               Nas situações de risco, além da ativação imediata das glândulas suprarrenais, a apelação ao desconhecido torna-se necessária: o real já não pode mais ser recorrido e a fé acaba sendo a única saída - ponto comum nos seres humanos, assim como a liberação da adrenalina. - O desconhecido assusta, mas o amor pelo conhecimento cativa. - Talvez o Brasil tivesse sido colonizado antes se os portugueses tivessem tido mais curiosidade (e memória) e descoberto a forma geoide da Terra com Atlas, que a carregava nas costas, desde a Antiguidade Clássica. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Antropofagismo

            A evolução é clara: o que for perdendo sua utilidade passa a extinguir-se; ora por falta de necessidade, ora por falta de prioridade, o "excesso" é eliminado. O cérebro, por exemplo, se não usado, tende a atrofiar-se. [Não que eu defenda Lamarck]
           Século XVIII: os testes da máquina capaz de fixar uma superfície sensível, por meio da luz, a imagem dos objetos, começaram a ser feitos - não se tem certeza da autoria da invenção, mas a revolução que ela causou é certa: o mundo contemporâneo não viu mais necessidade de fazer uma descrição minuciosa dos acontecimentos (ou das pessoas) e criou movimentos como o Futurismo, o Cubismo, o Impressionismo (...) para retratar o mundo de forma sentimental, não mais racionalmente - um mundo representado como é sentido e visto, não como realmente é.
             A tecnologia da câmera fotográfica é inferior a dos computadores, e, com eles, o individualismo está sendo cultivado e crescendo exponencialmente - o contato físico diminuiu e o comodismo vence ao confrontar a insatisfação - a arte perdeu espaço, assim como o pensamento. O tamanho da complexidade digital é inversamente proporcional ao esforço necessário para usá-la. - A habilidade manual não é desenvolvida e até mesmo a fotografia mudou de conceito: não basta a retratação idêntica, também se busca o expressionismo nas imagens fotografadas.
              Trocar o lápis e o papel por teclas de computador é como substituir o trabalho humano por robôs e  trocar um piano de cauda a base de cordas por um teclado eletrônico; por mais que seja preciso pensar para criar arte digitalmente, o esforço é reduzido, não se pensa por completo e a criatividade perde espaço. A tecnologia pode servir como contribuição para os artistas e ampliar as possibilidades de arte - as novas formas de expressão não visam ao desaparecimento das anteriores - sem desmerecer o suor do trabalho manual e pensando - a arte grita, Munch que o diga.

sábado, 20 de agosto de 2011

O Triste Fim da Integridade

            História de azares de um nacionalista: quem examinasse a sua coleção de livros veria com clareza a preferência pela literatura brasileira - Bento Teixeira, Gregório de Matos, Santa Rita Durão e os mais românticos José de Alencar e Gonçalves Dias. Policarpo Quaresma, personagem do autor pré-modernista Lima Barreto, esforçou-se para manter seus ideais e questionou constantemente deputados e o presidente Marechal de Ferro - tanta insistência resultou na morte do simplório brasileiro.
            Não existe verdade, a partir do momento em que existem pontos de vista; e eles não são iguais: as divergências deveriam ser usadas para a obtenção de lucro intelectual - na presença de bom-senso, há a retirada das ideias alheias para o enriquecimento das próprias; na sua ausência, os argumentos utilizados atritam-se e geram conflito: as controvérsias vão prosseguir até que alguém silencie. Melhor do que o silêncio, é buscar pacificamente a exposição de cada pensamento, porque, da mesma forma como não se quer alterar a própria opinião, o outro não quer ter a sua mudada - pode-se concordar, mas concordância não significa compreensão.
            Mesmo com a oportunidade de negar suas crenças e evitar a morte, Sócrates preferiu beber cicuta e morrer envenenado do que corromper sua alma. Acreditava que a integridade deveria ser preservada em qualquer situação, mas seu triste fim não convenceu aos que não aderiam às suas verdades. Já a conclusão de Quaresma, quando estava próximo da morte, foi de que deveria ter mentido, matado, e roubado durante sua vida, em vez de buscar a aprovação de seus ideais - a integridade matou Sócrates e foi morta por Quaresma; agiram de formas opostas; nenhuma terminou em felicidade, porém. - Defender um ponto de vista não há de ser motivo para arrependimento, mas teimosia deve.
           Usa-se da autoridade na falta de argumentos [Quaresma e Sócrates sofreram ainda mais devido às suas posições sociais e à falta de poder] como fizeram os eminentíssimos-reverendíssimos-senhores-cardeais-inquisidores-gerais com inúmeros cientistas e filósofos: Galileu Galilei foi obrigado a abjurar, amaldiçoar e detestar seus supostos erros e heresias, mas nem pela teimosia clerical o Sol deixou de ser o centro do universo e a Terra parou de mover-se.

domingo, 7 de agosto de 2011

Tanto Tempo

O dia fechou.
Janela esquecida aberta.
O vento uivava, cortava a carne, tensionava o músculo, arrepiava o pêlo.
Ela era bonita, como todos diziam, jovem - como se a idade fosse sinônimo de beleza. Nova e bonita.
Precisava levantar, não conseguia.
Só sentia a pele cortada, o músculo tensionado, o pêlo arrepiado. E a lágrima que teimava em não cair.
O frio anunciava o crepúsculo - queria ver o sol no horizonte. Não via. Não levantava. Queria. Queria o horizonte além das lágrimas horizontais.
E Pingava. Ouvia que pingava. Não lágrimas. Não chuva. Mas a solução-isotônica-glicosada que adentrava a veia e cortava, tencionava, arrepiava.
Branco sem névoa, sem sol, sem dia, sem nada.
Com tudo.
Com dor, com lágrima, com sofrimento.
Tanto tempo.
Sem cartas, sem telefonemas, sem respostas.
Com nostalgia, com tristeza, com saudade.
O vento trazia a lembrança do que jamais iria voltar.
Tão bonita. Tão jovem. Tão frágil.
O sol abriu. Ela não.