sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Arcádia Urbana

          Em meados do século XVIII, na Inglaterra, descobriu-se o poder do vapor: não mais trabalhos manuais, mas a maquinofatura que invadia uma sociedade recém saída do campo. O bucolismo perdeu espaço e a Arcádia foi concretizando-se no plano das ideias.
            Com a máquina e com o Capitalismo industrial, o século das luzes trouxe filósofos defensores da teoria de que os homens são iguais perante a natureza, sendo as desigualdades causadas pelo próprio ser humano - "foram aquinhoados pelo seu Criador com certos direitos inalienáveis e entre esses direitos se encontram o da vida, o da liberdade e o da busca da felicidade." Com o Capitalismo, a superioridade em relação aos outros é mais almejada, a competitividade é extrema e o pecado da ganância torna-se ainda mais invencível.
           É muito estresse para pouco dia: o trabalho parece interminável e as oito horas de sono diárias recomendadas não são cumpridas. Já não se está mais no século XVIII, entretanto o Capitalismo só evoluiu, juntamente à tecnologia. O dito dos poetas contemporâneos da Revolução Industrial de aproveitar o dia é esquecido e o refúgio de felicidade árcade passou a ser apenas nostalgia.
          A saúde não fica impune: produtividade tem limite. - diversos medicamentos são buscados para que o homem se tranquilize - A felicidade tornou-se mais um objeto de desejo, como o acumulo de capital, não mais um caminho para atingi-lo. - como se felicidade fosse obrigatória e a tristeza intolerante; que valor haveria em ser feliz caso o gosto da tristeza não fosse experimentado?
          O estresse não nasce das circunstâncias externas, mas da interpretação que é feita delas - que os fatores e estatísticas sejam menos motivo de preocupação e que a conciliação do lucro com o bem estar exista a partir de benefícios tirados do sofrimento anterior; que cada um reencontre a Árcadia por meio de um êxodo urbano, ao menos no mundo abstrato. Não mais remédios: a filosofia como terapeuta.

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