domingo, 7 de agosto de 2011

Tanto Tempo

O dia fechou.
Janela esquecida aberta.
O vento uivava, cortava a carne, tensionava o músculo, arrepiava o pêlo.
Ela era bonita, como todos diziam, jovem - como se a idade fosse sinônimo de beleza. Nova e bonita.
Precisava levantar, não conseguia.
Só sentia a pele cortada, o músculo tensionado, o pêlo arrepiado. E a lágrima que teimava em não cair.
O frio anunciava o crepúsculo - queria ver o sol no horizonte. Não via. Não levantava. Queria. Queria o horizonte além das lágrimas horizontais.
E Pingava. Ouvia que pingava. Não lágrimas. Não chuva. Mas a solução-isotônica-glicosada que adentrava a veia e cortava, tencionava, arrepiava.
Branco sem névoa, sem sol, sem dia, sem nada.
Com tudo.
Com dor, com lágrima, com sofrimento.
Tanto tempo.
Sem cartas, sem telefonemas, sem respostas.
Com nostalgia, com tristeza, com saudade.
O vento trazia a lembrança do que jamais iria voltar.
Tão bonita. Tão jovem. Tão frágil.
O sol abriu. Ela não.

6 comentários:

  1. Nossa, muito bom, Lu!!

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  2. Wow, show continue assim.

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  3. Amei o estilo de escrita do que se segue após "O frio anunciava o crepúsculo". O ritmo que as frases cortadas e cortantes deram. Adorei a conexão de ideias que me fizeram sentir o fluxo, não constante, mas que foi aumentando gradativamente até desembocar diretamente em mim, me fazendo sentir cada palavra. Sentir dor, sentir o sol, as lágrimas, o torpor. E o desfecho foi fascinante. Parabéns.

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